Gostava que ele tivesse sobrevivido como os restantes que iam no carro, no entanto faz-me muita confusão o aparato e a forma como esta notícia foi divulgada nos meios de comunicação social.
Como é um menino bonito da TV não interessa nada que o carro circulasse na via pública sem seguro, ou que a maioria dos ocupantes não tivesse colocado o cinto de segurança. Também parece não interessar a ninguém saber a que velocidade ia a viatura ou se condutor apresentava excesso de álcool ou drogas no sangue. Ninguém falou disso. Aliás ele não teve um acidente, foi simplesmente o pneu que furou, que infelicidade tal. Mas a comunicação social em peso preferiu a exploração do efeito emocional e ficou por aí.
Se fosse eu a ter o acidente já era considerado um assassino sem dó nem piedade. Eu e a minha família eramos esmiuçados até ao tutano na procura de podres.
Durante esta semana morreu o empresário Salvador Caetano. É verdade que o senhor tinha 85 anos e estava doente, mas a histeria mediática à volta do desaparecimento do menino bonito, por contraste com a discrição da notícia da morte do empresário nos órgãos de informação dá-nos um excelente retrato da ordem de valores da sociedade actual.
Por aqui se vê que um jovem cantor e actor é muito mais importante do que um homem que subiu na vida a pulso, construiu um império industrial, contribuiu para a produção da riqueza nacional e deu emprego a milhares de pessoas. Por aqui se vê que para muita gente é mais importante uma novela de duvidosa qualidade, com adolescentes, do que construir fábricas, criar empregos no país e dar pão a inúmeras famílias.
Apesar de tudo entendo muito bem a reacção dos adolescentes neste caso. A culpa desta inversão de valores nem sequer é deles. É da geração anterior, dos pais, que os educaram assim. Para a diversão e não para o trabalho. Tratam-nos como Zombies com um QI inferior a 100 que devoram noticias sensacionalistas.