Numa longa entrevista a 48 horas da renovação do mandato como presidente da SAD do Leixões Carlos Oliveira diz tudo
Manhã de sábado. A Soltráfego parecia estar em silêncio, mas não estava. Lá dentro trabalhava-se e, pelo que vimos, com afã. O presidente da empresa apareceu ao jornalista de t-shirt vestida, escorrendo suor. Marca de um ferro nas costas. O exemplo de um homem de trabalho que ainda tem tempo e qualidade para ser o responsável pelo Leixões. O presidente duma empresa que detém 43% do mercado nacional do
seu ramo na área de estacionamento e comunicação.Mesmo naquele estado de cansaço ainda teve disponibilidade para responder a todas as perguntas, permitindo assim que os leitores do “Matosinhos Hoje” e, sobretudo os associados e simpatizantes do Leixões ficassem a conhecer melhor as vicissitudes do centenário clube e os seus desejos ambiciosos de vitórias no campo desportivo e social.
1 - A existência de duas listas no último acto eleitoral foi de certo modo surpreendente para a generalidade dos leixonenses. Também para si?
- O que posso dizer é que o resultado eleitoral faz-me ter um sentimento de humildade muito grande perante os sócios do Leixões porque a maneira como acorreram a este acto eleitoral, para demonstrar que estão de acordo com o que se tem feito, deixa-me com uma necessidade de uma reflexão profunda sobre o que se fez
e o que há para fazer. Com um sentido de responsabilidade humilde e,por outro lado, satisfeito porque tinha uma enorme preocupação em relação à maneira como os sócios poderiam ver este ciclo. O facto de
termos marcado propositadamente este acto eleitoral para depois do final da época – estas eleições podiam ter sido feitas em Março, retirando esta carga psicológica muito negativa por termos baixado de divisão –
foi significativo. Havia uma certa dúvida sobre a vontade dos sócios em relação à nossa gestão. Assim, marcamos estas eleições para uma semana após o final da época porque queríamos saber até que ponto os sócios do Leixões validavam a nossa estratégia.
2 - Oseu adversário nestas eleições disse que queria devolver o clube aos sócios e recuperar a mística...
- Acho que quem não interpretou bem a mensagem foi ele pela resposta que os sócios deram no acto eleitoral. Ou seja, os sócios acharam que nunca ninguém tinha roubado o clube aos sócios e quanto à mística... ela é aquilo que nós vimos nas eleições, onde estiveram muito perto de mil pessoas, sendo que algumas acabaram por não votar devido ao adiantado da hora, ficando, sem qualquer dúvida, aquelas que a oposição conseguiu reunir de forma militante.
3 - José Manuel Teixeira disse também que se ganhasse iria fazer uma auditoria às contas...
- Não entendi muito bem. As contas sempre foram aprovadas em assembleia geral e sempre foram auditadas por um revisor oficial de contas e estão disponíveis para ser consultados por qualquer grupo de sócios. A grande questão é perguntar porque é que nós, quando aqui chegámos, não fizemos essa auditoria. Não a
fizemos porque as contas eram tão más que não precisavam de ser auditadas, estavam à vista. Não quisemos andar a arrastar o nome do clube em discussões estéreis. Deitámos mão ao trabalho e resolvemos as questões e esse é que é o ponto importante. Todos nós sabemos como é que estavam as contas. É importante reflectir nisto: a SAD foi constituída em finais de 2002, teoricamente tinha zero de passivo e em 2003/2004 no
mínimo, aceitado pelo candidato da oposição, o passivo era de 5/6 milhões. E já nem discuto que fosse mais! Ou seja, uma SAD que arrancou com zero de passivo dois anos depois tinha um passivo de 6 milhões. Isso é que os sócios deviam questionar. Ou seja, apanhámos um clube e uma SAD falidos e temos estado a recuperar esse passivo. Como é que foi possível, em menos de dois anos, pegar numa coisa que não tinha passivo e apresentar este passivo? Essa é que é a questão que os sócios têm de pôr quando aparecem certas pessoas a querer tomar conta do clube.
4 - Há documentação que sustente esses números?
- Estão nas contas. Há pagamentos que foram feitos, há gastos que foram feitos e há falta de entrada das receitas correspondentes. Por isso é que tivemos esse passivo. Para além deste passivo que herdamos, ainda tivemos 4 ou 5 anos de inspecções das finanças que vieram a levantar as questões dos contratos paralelos que existiam antes de chegarmos. Muitos jogadores e treinadores sabem que foram chamados às finanças para pagar multas gravíssimas e nós estivemos de andar a pagar o IRS correspondente a esses contratos que não estavam registados. Tudo atingiu várias centenas de milhar de euros. Para comprovar o que estou a dizer, no mês passado, no tribunal do Trabalho, no processo de indemnização ao nosso antigo jogador Nené, fomos chamados para pagar a parte correspondente ao seguro que não indicada no contrato, pois no contrato de trabalho dele só estava indicado o salário do contrato não paralelo e a companhia de seguros na indemnização ao Nené só pagou a percentagem que estava no contrato oficial. Mas como o contrato paralelo está reconhecido, pela inspecção das finanças, como existindo, tivemos de ir a tribunal pagar essa verba. E ainda foi um bocado dinheiro e o Nené mais uma vez portou-se com elevação e não quis prejudicar o clube. Isto só para dar um exemplo sobre o que exista e sobre o que foi aparecendo no nosso caminho e ainda continua a aparecer.
5 - Estamos a falar do passivo da SAD mas o clube também tem um passivo, não é?
- Por causa do grande passivo do clube é que foi constituída a SAD. O passivo do clube ficou no clube e a SAD foi constituída com zero de passivo de forma a que pudéssemos inscrever a equipa.
6 - O que se passa com o passivo do clube?
- Tem vindo a ser drasticamente diminuído com negociações quer a nível da Segurança Social, quer a nível das Finanças, quer a nível dos fornecedores. Neste momento estamos em negociação com a própria FPF para
acertar aquele processo que foi tão mediatizado da penhora das finanças à FPF devido a uma dívida do Leixões. Não se percebe como é que o único clube envolvido nesta questão do famoso totonegócio acabou por ser o Leixões por causa de uma dívida de 320 mil euros que a FPF pagou. Quando se sabe que a dívida total dos clubes no totonegócio ascende a 40 milhões de euros!
7 - Com o passivo que a SAD ainda tem, esta descida de divisão não vai colocar a sociedade de
novo numa espécie de beco sem saída?
- Vai ser muito difícil. Há um plano que está a ser seguido de resolução contínua desse passivo até à anulação completa. Se nos tivéssemos mantido na I Liga, com um pouco de ginástica, no próximo ano teríamos o passivo completamente arrumado. Foi um pequeno azar. Na Liga de Honra, esse objectivo torna-se muito mais complicado, temos pela frente um desafio e temos que mobilizar os sócios, a sociedade civil, os
patrocinadores e ter criatividade suficiente para conseguir não agravar o passivo e ter, por outro lado, uma equipa competitiva.
8 - Vai continuar a, esporadicamente, surgir a afirmar que está cansado e que pode abandonar?
- Vamos lá ver, algumas pessoas interpretaram essas palavras mal, mas o que eu preciso é ter alguém a meu lado, que me ajude e que possa vir amanhã a suceder-me no lugar. Eu estou no lugar, repita-se, que não
queria, há seis anos. Fui empurrado numa circunstância que todos conhecem, nunca me senti verdadeiramente presidente, mas sim um trabalhador com responsabilidade de coordenar. Quando digo que se não houver apoios, abandono tal não pode ser interpretado negativamente, mas como a constatação da incapacidade que reconheço de sozinho levantar avante essa tarefa, abrindo caminho a alternativas. Recentemente houve
possibilidade de haver uma alternativa mas não poderia de forma nenhuma aceitar essa alternativa. É importante que os sócios percebam que há grande desafios pela frente e que não compete ao presidente da SAD resolvê-los sozinho, mas sim coordenar um plano para resolver as coisas.
O clube é dos sócios no activo e no passivo, nas glórias e nas dificuldades. Compete ao presidente fazer a melhor gestão das coisas e ter equilíbrio. Não é, infelizmente, mentira, que há um grande abandono de alguns dos responsáveis e do próprio povo leixonense. Tive o cuidado de pedir esta semana o número de sócios que têm as quotas em dia – porque com as eleições alguns foram a correr pôr as quotas em dia... -mas num universo de cerca de 9000 sócios os que têm as quotas de Março pagas não chega aos 3000. Como é que é possível que os sócios exijam permanentemente e na realidade um terço não paga as quotas? É nesse sentido que muitas vezes lanço um grito de alerta ou de desespero. As quotas dos sócios representam, obviamente, apenas uma parte das receitas, mas são sempre importantes. Sei que, devido à conjuntura
económica, é difícil ter as quotas em dia, mas não se pode exigir cumprimento de metas sem o mínimo de sustentabilidade. Sabemos que a vida está difícil para os sócios, mas também não está fácil para o clube
e para os seus dirigentes.
9 - Quantos sócios entende que o Leixões podia ter?
- Não tenho dúvidas nenhumas que o Leixões deveria ter, no mínimo, 15 mil sócios. É um número à dimensão da população do concelho. Recordo que este clube viveu nos últimos seis anos alguns dos seus melhores anos da
história. Portanto, neste período o clube tem trilhado o caminho do sucesso e tem de continuar a segui-lo. Porque é que o clube não tem mais sócios? É por as quotas serem muito caras? Não acredito. Apesar de 8,5
euros ou 7 euros ser muito dinheiro, representa praticamente o equivalente a dois maços de tabaco ou uma dúzia de cafés por mês. Se não se faz um sacrifício, aqui e ali, para fazer crescer o clube não é
fácil para ninguém. Os sócios sentem muito clube e que pagam as suas quotas, mas estamos a falar de três mil sócios. Os outros estão alheados. As coisas constroem-se em conjunto e não de costas voltadas.
Esta direcção já mostrou que está aberta ao diálogo, como resultou da criação de uma tertúlia.
10 - E as empresas?
- Infelizmente, continuo sem perceber porquê, são muito pouco receptivas às propostas do Leixões,
mesmo as grandes empresas sedeadas em Matosinhos, salvo raras excepções.Percebo que às vezes o futebol é mal visto, mas é a altura de acabarmos com esses complexos.
11 - O presidente da Câmara disse recentemente que há empresas de Matosinhos que apoiam o S.
João do Porto e não contribuem para as festas do Senhor de Matosinhos...
- Também sabemos que há empresas que apoiam outros clubes. Mas também aqui os sócios têm uma palavra a dizer pois muitos deles trabalham nessas empresas com capacidade para apoiar o Leixões. É um apelo que também lhes deixo.
12 - É voz corrente que já aplicou dinheiro seu na gestão do Leixões, na ordem dos milhões... É verdade?
- Esse é um tema recorrente. O que está dito está dito, o que está nas contas está nas contas. Só posso dizer que confirmo na generalidade o que tem sido nessa matéria. Mas, como disse, não é importante abordar esse tema. É melhor analisarmos mecanismos de construção, que mecanismos de dependência.
13- O que é que falhou esta época?
- Ora bem, estava feito um planeamento da época que de alguma forma foi comprometido com a saída inesperada do Vítor Oliveira. A partir de aí optou-se, dentro de um quadro de pessoas disponíveis na SAD, onde não havia ninguém para fazer a ponte entre a administração e o treinador, por dar ao treinador a liberdade necessária para escolher uma equipa. Independentemente do que possam dizer, até hoje ninguém me conseguiu provar nada que vá contra o que vou dizer: o Mota é um treinador sério, competente, e quando se teve que formatar uma equipa deu-se a liberdade de ele poder usar os mecanismos e os contactos que já tinha usado quando estava no Paços de Ferreira – com o sucesso que se conhece. Ninguém se esquece também que o José Mota já tinha feito no Leixões uma época de grande valia. Mas o futebol tem destas coisas. É uma bola que bate no poste, há o penalty que se comete e o penalty que o árbitro não nos concede... Face à situação dificil na tabela classificativa, procuramos não mexer na estrutura, mas depois de várias reuniões e contactos,
entendemos que podia haver ainda uma solução trocando de treinador. O que fazem muitos. Umas vezes com sorte, outras, não. Tentamos.
14 - A opção por Fernando Castro Santos também não foi um sucesso...
- Não foi bem sucedido porque não conseguimos a manutenção. O que não quer dizer que o Castro Santos
não tivesse demonstrado também que é um bom conhecedor de futebol e um técnico de bons recursos. Não quer dizer isto que se não tivéssemos trocado também não tivéssemos descido. Repito: há muitos exemplos de
treinadores trocados que resolveram o problema e outros não.
15 - Admite ainda a possibilidade de o Leixões para o ano jogar na I Divisão caso algumas equipas não consigam o licenciamento?
- Há muita coisa em cima da mesa. Não ando na caça às bruxas, mas sabemos que alguns clubes que participaram na última época na I Divisão aproveitaram artifícios que lei permite para terem documentos que permitiram o licenciamento. Nós sabemos que esses clubes tinham dívidas de um milhão de euros, nomeadamente às Finanças, e que apresentaram certidões baseando-se num mecanismo, que não posso dizer se é legal ou ilegal, que é um artifício muito semelhante ao que o
Boavista usou há alguns anos atrás, quando meteu um PEC e só esse facto permitiu a inscrição. Todos a gente sabe que alguns clubes utilizaram esse mecanismo.
16 - Mas isso não pode acontecer de novo?
- Espero que as Finanças tenham o cuidado de não o permitir. O ano passado havia um clube que devia às finanças, de IRC de 2003, mais de um milhão de euros e este ano já deve dois milhões. Espero que haja bom senso em relação a este caso... Permitir estes casos não é defender a verdade desportiva mas nós não fazemos a legislação e as regras e nesta matéria há algumas falhas que ainda permitem que certo clubes, em situações extraordinariamente mais graves que as nossas, possam inscrever as suas equipas, mantendo-se na I Divisão.
17 - O orçamento para a próxima época já está definido?
- Já está entregue na Liga. Já cumprimos um conjunto de formalismos necessários para a inscrição do clube, faltando algumas coisas que todos os anos se resolvem mais tarde. A parte do orçamento está resolvida, bem assim como os acordos que havia para fazer com os jogadores. O orçamento será bastante mais baixo mas não tão baixo que não possibilite termos a vontade de discutir a subida com uma equipa competitiva.
18 - O Leixões já manifestou apoio à candidatura de Fernando Gomes à presidência da Liga. O que
motivou este apoio?
- O Leixões apoia o dr. Fernando Gomes porque, apesar de haver uma outra proposta de candidatura, parece-nos que está mais próximo do modelo de gestão para a Liga que entendemos mais adequado. É um modelo que ainda continua errado e que vai continuar enquanto os estatutos da Liga não forem mudados, enquanto isso não acontecer a Liga vai andar sempre empurrada pelos grandes clubes. Conheço o dr. Fernando Gomes desde 1977, ainda ele não pensava ser vice-presidente do FC Porto, estava na altura numa empresa de informática. Comprei-lhe então um computador. Conheço as suas qualidades de gestor e aqui não tem ver onde é que ele estava, se estava na SAD do FC Porto ou noutra. Se formos a ver o passado de todos os que se apresentam como candidatos encontraremos sempre uma ou outra questão. O que está em causa é que o projecto enunciado por Fernando Gomes parece-nos mais capaz de ir adiante que o projecto do engenheiro
Rui Alves. Pareceu-nos que devíamos apoiar a candidatura do dr. Fernando Gomes, o que não quer dizer que se houver alguma reviravolta...
19 - O que levou o Leixões a abandonar, na última época, a direcção da Liga?
- O senhor presidente da Liga ou os seus órgãos internos tinha vindo a tratar mal o Leixões desde o final da época interior quando na apresentação dos pressupostos várias vezes foram perguntados sobre a situação do Leixões dando respostas sempre muito dúbias, colocando na cabeça das pessoas a ideia de que o Leixões era um clube tecnicamente incumpridor e sem condições.
Quando vimos que o próprio regulamento interno da Liga não resolvia estas questões entendemos que o Leixões já não se revia no projecto inicial que o levou a integrar a Liga.
20 - Hermínio Loureiro foi um bom presidente da Liga?
- Hermínio Loureiro, feito o saldo, foi um bom presidente da Liga. Não cumprir, a maioria das vezes não por sua culpa, aquilo a que se propôs e em determinada altura perdeu um bocado a objectividade naquilo que pretendia. Alertei-o várias vezes da necessidade de estar mais tempo na Liga e das consequências que teria para a Liga o facto de poder ser presidente da câmara de Oliveira de Azeméis. Enquanto deputado ele tinha maior flexibilidade de horário. O grande descalabro e a grande desorientação na Liga surgiram exactamente após ele assumir a candidatura à Câmara. As suas responsabilidades como autarca limitaram-no muito. Sabemos todos que com patrão fora é dia santo na loja.
21 - Há a possibilidade de os jogos do Leixões na II Liga serem transmitidos na sua quase totalidade pela Sport-TV?
- Como nós sabemos, a Sport-TV dá todas as semanas dois ou três jogos da Liga de Honra. Não tenho
dúvidas que a maioria desses jogos serão jogos do Leixões.
22 - Consumada a contratação de Augusto Inácio, vai arrancar agora o processo de formação de um plantel que só tem 9 jogadores com vínculo contratual?
- Este é o fim de um ciclo e o início de um novo ciclo. Independentemente de alguns dizerem que nós não sabemos nada de futebol, quero-lhes dizer aqueles que dizem saber muito de futebol sabem apenas de coisas que andam à volta do futebol. O futebol é jogo jogado. Isso é que é futebol.Se estamos a falar em esquemas, não é por aí que queremos ir. O Leixões tem de ser reconhecido por não entrar por caminhos cinzentos em que
muitas vezes entrou. Este tem de ser um negócio de gente séria, o que não quer dizer que não sintamos que já fomos prejudicados por questões menos claras. O que vamos fazer será, portanto, uma grande análise às
nossas possibilidades.
23 - O Estádio do Mar vai ser alterado, vai perder a bancada norte, os campos do treino, não é esta a oportunidade para se falar de novo na possibilidade de o Leixões ter um novo estádio?
- O que está a acontecer vem de um projecto de reformulação da cidade no qual o Leixões tem um papel importantíssimo. A cidade deve ao Leixões o facto de ter “pegado” naquela zona da Cruz de Pau e de a ter reformulado. Sem o Leixões, a Câmara ainda não teria avançado para aí. Portanto, foi o Leixões que levantou a questão e tudo avançou. O Leixões não precisa de um novo estádio. Clubes da dimensão do nosso tem de ter o mínimo possível de despesas estruturais e esta é uma oportunidade fantástica para a cidade e o concelho passarem a ter um estádio municipal de qualidade e de dimensão adequada. Naquele sítio porque hoje também não temos muitos terrenos disponíveis e ali as acessibilidades vão ser muitoboas, estará ao lado de duas estações de metro e ligação à A28 e à Senhora da Hora. O estádio vai ficar num sítio que poderá ser o
ex-líbris da cidade e um ponto de encontro da cidade e dos visitantes. O que é preciso é pensar-se em fazer um estádio municipal. Hoje, os leixonenses não teriam dificuldade em aceitar negociar com a câmara, em posição de justiça, uma transferência para a Câmara do estádio, para transformar o Mar no estádio emblemático de Matosinhos. E isso não será comprometer a herança que recebemos dos que ajudaram a construir o estádio, pelo contrário. Não acreditemos nesses falsos profetas que
dizem que tal será desonrar os antepassados. Desonrar os antepassados é não ter a capacidade de melhorar o que nos deixaram. Não podemos herdar uma casa e deixá-la cair aos bocados só porque não podemos mexer nela. Temos de pegar na casa que nos deixaram e melhorá-la, colocando-a ao
serviço da comunidade. Aqueles que ajudaram a construir o Estádio do Mar gostariam de ver o que construíram não em ruínas como estava quando chegámos mas remodelado, sendo um grande ponto de encontro de todos os matosinhenses. Mesmo que mude de dono, não deixará de ser o estádio do
Mar, o estádio dos pescadores, o estádio de todos os matosinhenses. Quanto melhor estiver, quanto mais condições tiver, mais dignificará quem teve a coragem de lançar a primeira pedra. A Câmara já resolveu o
problema do Lavrense, do Leça do Balio, do Custóias, está a resolver o problema do Infesta e do Leça, resolveu o problema do Padroense...portanto, a câmara tem obrigações para com um clube que tem sido muito solidário com a cidade, que tem levado longe o nome de Matosinhos. Não pode, por isso, continuar a ter complexos de ajudar o Leixões. Porque sempre que a Câmara ajuda com um pão aparecem logo os chamados grandes amigos do Leixões a criticar mas não vêem que na proporção outros clubes têm sido muito ajudados. Não critico essa ajudo apenas quero que acabemos com os complexos de levantar sempre suspeições quando aparece alguém a querer ajudar o Leixões. Aqui não há negociatas, há o interesse da causa comum. O Leixões já mostrou que tem um projecto sério e que todos aqueles que durante os últimos anos tentaram denegrir esse projecto receberam a devida resposta nas últimas eleições.
24 - O que vai mudar na formação do clube?
- A formação do Leixões tem de ser um ex-líbris só que não podemos ser um armazém de jovens. É sempre
muito difícil aproveitar os nossos jogadores da formação. Por um lado pedem-nos para apostar nos nossos jovens mas por outro pedem-nos resultados imediatos. Por isso, temos de olhar para a formação sempre
pensando nos custos e nos benefícios que podemos conseguir.
Por: Joaquim Queirós
in http://www.matosinhoshoje.com
Manhã de sábado. A Soltráfego parecia estar em silêncio, mas não estava. Lá dentro trabalhava-se e, pelo que vimos, com afã. O presidente da empresa apareceu ao jornalista de t-shirt vestida, escorrendo suor. Marca de um ferro nas costas. O exemplo de um homem de trabalho que ainda tem tempo e qualidade para ser o responsável pelo Leixões. O presidente duma empresa que detém 43% do mercado nacional do
seu ramo na área de estacionamento e comunicação.Mesmo naquele estado de cansaço ainda teve disponibilidade para responder a todas as perguntas, permitindo assim que os leitores do “Matosinhos Hoje” e, sobretudo os associados e simpatizantes do Leixões ficassem a conhecer melhor as vicissitudes do centenário clube e os seus desejos ambiciosos de vitórias no campo desportivo e social.
1 - A existência de duas listas no último acto eleitoral foi de certo modo surpreendente para a generalidade dos leixonenses. Também para si?
- O que posso dizer é que o resultado eleitoral faz-me ter um sentimento de humildade muito grande perante os sócios do Leixões porque a maneira como acorreram a este acto eleitoral, para demonstrar que estão de acordo com o que se tem feito, deixa-me com uma necessidade de uma reflexão profunda sobre o que se fez
e o que há para fazer. Com um sentido de responsabilidade humilde e,por outro lado, satisfeito porque tinha uma enorme preocupação em relação à maneira como os sócios poderiam ver este ciclo. O facto de
termos marcado propositadamente este acto eleitoral para depois do final da época – estas eleições podiam ter sido feitas em Março, retirando esta carga psicológica muito negativa por termos baixado de divisão –
foi significativo. Havia uma certa dúvida sobre a vontade dos sócios em relação à nossa gestão. Assim, marcamos estas eleições para uma semana após o final da época porque queríamos saber até que ponto os sócios do Leixões validavam a nossa estratégia.
2 - Oseu adversário nestas eleições disse que queria devolver o clube aos sócios e recuperar a mística...
- Acho que quem não interpretou bem a mensagem foi ele pela resposta que os sócios deram no acto eleitoral. Ou seja, os sócios acharam que nunca ninguém tinha roubado o clube aos sócios e quanto à mística... ela é aquilo que nós vimos nas eleições, onde estiveram muito perto de mil pessoas, sendo que algumas acabaram por não votar devido ao adiantado da hora, ficando, sem qualquer dúvida, aquelas que a oposição conseguiu reunir de forma militante.
3 - José Manuel Teixeira disse também que se ganhasse iria fazer uma auditoria às contas...
- Não entendi muito bem. As contas sempre foram aprovadas em assembleia geral e sempre foram auditadas por um revisor oficial de contas e estão disponíveis para ser consultados por qualquer grupo de sócios. A grande questão é perguntar porque é que nós, quando aqui chegámos, não fizemos essa auditoria. Não a
fizemos porque as contas eram tão más que não precisavam de ser auditadas, estavam à vista. Não quisemos andar a arrastar o nome do clube em discussões estéreis. Deitámos mão ao trabalho e resolvemos as questões e esse é que é o ponto importante. Todos nós sabemos como é que estavam as contas. É importante reflectir nisto: a SAD foi constituída em finais de 2002, teoricamente tinha zero de passivo e em 2003/2004 no
mínimo, aceitado pelo candidato da oposição, o passivo era de 5/6 milhões. E já nem discuto que fosse mais! Ou seja, uma SAD que arrancou com zero de passivo dois anos depois tinha um passivo de 6 milhões. Isso é que os sócios deviam questionar. Ou seja, apanhámos um clube e uma SAD falidos e temos estado a recuperar esse passivo. Como é que foi possível, em menos de dois anos, pegar numa coisa que não tinha passivo e apresentar este passivo? Essa é que é a questão que os sócios têm de pôr quando aparecem certas pessoas a querer tomar conta do clube.
4 - Há documentação que sustente esses números?
- Estão nas contas. Há pagamentos que foram feitos, há gastos que foram feitos e há falta de entrada das receitas correspondentes. Por isso é que tivemos esse passivo. Para além deste passivo que herdamos, ainda tivemos 4 ou 5 anos de inspecções das finanças que vieram a levantar as questões dos contratos paralelos que existiam antes de chegarmos. Muitos jogadores e treinadores sabem que foram chamados às finanças para pagar multas gravíssimas e nós estivemos de andar a pagar o IRS correspondente a esses contratos que não estavam registados. Tudo atingiu várias centenas de milhar de euros. Para comprovar o que estou a dizer, no mês passado, no tribunal do Trabalho, no processo de indemnização ao nosso antigo jogador Nené, fomos chamados para pagar a parte correspondente ao seguro que não indicada no contrato, pois no contrato de trabalho dele só estava indicado o salário do contrato não paralelo e a companhia de seguros na indemnização ao Nené só pagou a percentagem que estava no contrato oficial. Mas como o contrato paralelo está reconhecido, pela inspecção das finanças, como existindo, tivemos de ir a tribunal pagar essa verba. E ainda foi um bocado dinheiro e o Nené mais uma vez portou-se com elevação e não quis prejudicar o clube. Isto só para dar um exemplo sobre o que exista e sobre o que foi aparecendo no nosso caminho e ainda continua a aparecer.
5 - Estamos a falar do passivo da SAD mas o clube também tem um passivo, não é?
- Por causa do grande passivo do clube é que foi constituída a SAD. O passivo do clube ficou no clube e a SAD foi constituída com zero de passivo de forma a que pudéssemos inscrever a equipa.
6 - O que se passa com o passivo do clube?
- Tem vindo a ser drasticamente diminuído com negociações quer a nível da Segurança Social, quer a nível das Finanças, quer a nível dos fornecedores. Neste momento estamos em negociação com a própria FPF para
acertar aquele processo que foi tão mediatizado da penhora das finanças à FPF devido a uma dívida do Leixões. Não se percebe como é que o único clube envolvido nesta questão do famoso totonegócio acabou por ser o Leixões por causa de uma dívida de 320 mil euros que a FPF pagou. Quando se sabe que a dívida total dos clubes no totonegócio ascende a 40 milhões de euros!
7 - Com o passivo que a SAD ainda tem, esta descida de divisão não vai colocar a sociedade de
novo numa espécie de beco sem saída?
- Vai ser muito difícil. Há um plano que está a ser seguido de resolução contínua desse passivo até à anulação completa. Se nos tivéssemos mantido na I Liga, com um pouco de ginástica, no próximo ano teríamos o passivo completamente arrumado. Foi um pequeno azar. Na Liga de Honra, esse objectivo torna-se muito mais complicado, temos pela frente um desafio e temos que mobilizar os sócios, a sociedade civil, os
patrocinadores e ter criatividade suficiente para conseguir não agravar o passivo e ter, por outro lado, uma equipa competitiva.
8 - Vai continuar a, esporadicamente, surgir a afirmar que está cansado e que pode abandonar?
- Vamos lá ver, algumas pessoas interpretaram essas palavras mal, mas o que eu preciso é ter alguém a meu lado, que me ajude e que possa vir amanhã a suceder-me no lugar. Eu estou no lugar, repita-se, que não
queria, há seis anos. Fui empurrado numa circunstância que todos conhecem, nunca me senti verdadeiramente presidente, mas sim um trabalhador com responsabilidade de coordenar. Quando digo que se não houver apoios, abandono tal não pode ser interpretado negativamente, mas como a constatação da incapacidade que reconheço de sozinho levantar avante essa tarefa, abrindo caminho a alternativas. Recentemente houve
possibilidade de haver uma alternativa mas não poderia de forma nenhuma aceitar essa alternativa. É importante que os sócios percebam que há grande desafios pela frente e que não compete ao presidente da SAD resolvê-los sozinho, mas sim coordenar um plano para resolver as coisas.
O clube é dos sócios no activo e no passivo, nas glórias e nas dificuldades. Compete ao presidente fazer a melhor gestão das coisas e ter equilíbrio. Não é, infelizmente, mentira, que há um grande abandono de alguns dos responsáveis e do próprio povo leixonense. Tive o cuidado de pedir esta semana o número de sócios que têm as quotas em dia – porque com as eleições alguns foram a correr pôr as quotas em dia... -mas num universo de cerca de 9000 sócios os que têm as quotas de Março pagas não chega aos 3000. Como é que é possível que os sócios exijam permanentemente e na realidade um terço não paga as quotas? É nesse sentido que muitas vezes lanço um grito de alerta ou de desespero. As quotas dos sócios representam, obviamente, apenas uma parte das receitas, mas são sempre importantes. Sei que, devido à conjuntura
económica, é difícil ter as quotas em dia, mas não se pode exigir cumprimento de metas sem o mínimo de sustentabilidade. Sabemos que a vida está difícil para os sócios, mas também não está fácil para o clube
e para os seus dirigentes.
9 - Quantos sócios entende que o Leixões podia ter?
- Não tenho dúvidas nenhumas que o Leixões deveria ter, no mínimo, 15 mil sócios. É um número à dimensão da população do concelho. Recordo que este clube viveu nos últimos seis anos alguns dos seus melhores anos da
história. Portanto, neste período o clube tem trilhado o caminho do sucesso e tem de continuar a segui-lo. Porque é que o clube não tem mais sócios? É por as quotas serem muito caras? Não acredito. Apesar de 8,5
euros ou 7 euros ser muito dinheiro, representa praticamente o equivalente a dois maços de tabaco ou uma dúzia de cafés por mês. Se não se faz um sacrifício, aqui e ali, para fazer crescer o clube não é
fácil para ninguém. Os sócios sentem muito clube e que pagam as suas quotas, mas estamos a falar de três mil sócios. Os outros estão alheados. As coisas constroem-se em conjunto e não de costas voltadas.
Esta direcção já mostrou que está aberta ao diálogo, como resultou da criação de uma tertúlia.
10 - E as empresas?
- Infelizmente, continuo sem perceber porquê, são muito pouco receptivas às propostas do Leixões,
mesmo as grandes empresas sedeadas em Matosinhos, salvo raras excepções.Percebo que às vezes o futebol é mal visto, mas é a altura de acabarmos com esses complexos.
11 - O presidente da Câmara disse recentemente que há empresas de Matosinhos que apoiam o S.
João do Porto e não contribuem para as festas do Senhor de Matosinhos...
- Também sabemos que há empresas que apoiam outros clubes. Mas também aqui os sócios têm uma palavra a dizer pois muitos deles trabalham nessas empresas com capacidade para apoiar o Leixões. É um apelo que também lhes deixo.
12 - É voz corrente que já aplicou dinheiro seu na gestão do Leixões, na ordem dos milhões... É verdade?
- Esse é um tema recorrente. O que está dito está dito, o que está nas contas está nas contas. Só posso dizer que confirmo na generalidade o que tem sido nessa matéria. Mas, como disse, não é importante abordar esse tema. É melhor analisarmos mecanismos de construção, que mecanismos de dependência.
13- O que é que falhou esta época?
- Ora bem, estava feito um planeamento da época que de alguma forma foi comprometido com a saída inesperada do Vítor Oliveira. A partir de aí optou-se, dentro de um quadro de pessoas disponíveis na SAD, onde não havia ninguém para fazer a ponte entre a administração e o treinador, por dar ao treinador a liberdade necessária para escolher uma equipa. Independentemente do que possam dizer, até hoje ninguém me conseguiu provar nada que vá contra o que vou dizer: o Mota é um treinador sério, competente, e quando se teve que formatar uma equipa deu-se a liberdade de ele poder usar os mecanismos e os contactos que já tinha usado quando estava no Paços de Ferreira – com o sucesso que se conhece. Ninguém se esquece também que o José Mota já tinha feito no Leixões uma época de grande valia. Mas o futebol tem destas coisas. É uma bola que bate no poste, há o penalty que se comete e o penalty que o árbitro não nos concede... Face à situação dificil na tabela classificativa, procuramos não mexer na estrutura, mas depois de várias reuniões e contactos,
entendemos que podia haver ainda uma solução trocando de treinador. O que fazem muitos. Umas vezes com sorte, outras, não. Tentamos.
14 - A opção por Fernando Castro Santos também não foi um sucesso...
- Não foi bem sucedido porque não conseguimos a manutenção. O que não quer dizer que o Castro Santos
não tivesse demonstrado também que é um bom conhecedor de futebol e um técnico de bons recursos. Não quer dizer isto que se não tivéssemos trocado também não tivéssemos descido. Repito: há muitos exemplos de
treinadores trocados que resolveram o problema e outros não.
15 - Admite ainda a possibilidade de o Leixões para o ano jogar na I Divisão caso algumas equipas não consigam o licenciamento?
- Há muita coisa em cima da mesa. Não ando na caça às bruxas, mas sabemos que alguns clubes que participaram na última época na I Divisão aproveitaram artifícios que lei permite para terem documentos que permitiram o licenciamento. Nós sabemos que esses clubes tinham dívidas de um milhão de euros, nomeadamente às Finanças, e que apresentaram certidões baseando-se num mecanismo, que não posso dizer se é legal ou ilegal, que é um artifício muito semelhante ao que o
Boavista usou há alguns anos atrás, quando meteu um PEC e só esse facto permitiu a inscrição. Todos a gente sabe que alguns clubes utilizaram esse mecanismo.
16 - Mas isso não pode acontecer de novo?
- Espero que as Finanças tenham o cuidado de não o permitir. O ano passado havia um clube que devia às finanças, de IRC de 2003, mais de um milhão de euros e este ano já deve dois milhões. Espero que haja bom senso em relação a este caso... Permitir estes casos não é defender a verdade desportiva mas nós não fazemos a legislação e as regras e nesta matéria há algumas falhas que ainda permitem que certo clubes, em situações extraordinariamente mais graves que as nossas, possam inscrever as suas equipas, mantendo-se na I Divisão.
17 - O orçamento para a próxima época já está definido?
- Já está entregue na Liga. Já cumprimos um conjunto de formalismos necessários para a inscrição do clube, faltando algumas coisas que todos os anos se resolvem mais tarde. A parte do orçamento está resolvida, bem assim como os acordos que havia para fazer com os jogadores. O orçamento será bastante mais baixo mas não tão baixo que não possibilite termos a vontade de discutir a subida com uma equipa competitiva.
18 - O Leixões já manifestou apoio à candidatura de Fernando Gomes à presidência da Liga. O que
motivou este apoio?
- O Leixões apoia o dr. Fernando Gomes porque, apesar de haver uma outra proposta de candidatura, parece-nos que está mais próximo do modelo de gestão para a Liga que entendemos mais adequado. É um modelo que ainda continua errado e que vai continuar enquanto os estatutos da Liga não forem mudados, enquanto isso não acontecer a Liga vai andar sempre empurrada pelos grandes clubes. Conheço o dr. Fernando Gomes desde 1977, ainda ele não pensava ser vice-presidente do FC Porto, estava na altura numa empresa de informática. Comprei-lhe então um computador. Conheço as suas qualidades de gestor e aqui não tem ver onde é que ele estava, se estava na SAD do FC Porto ou noutra. Se formos a ver o passado de todos os que se apresentam como candidatos encontraremos sempre uma ou outra questão. O que está em causa é que o projecto enunciado por Fernando Gomes parece-nos mais capaz de ir adiante que o projecto do engenheiro
Rui Alves. Pareceu-nos que devíamos apoiar a candidatura do dr. Fernando Gomes, o que não quer dizer que se houver alguma reviravolta...
19 - O que levou o Leixões a abandonar, na última época, a direcção da Liga?
- O senhor presidente da Liga ou os seus órgãos internos tinha vindo a tratar mal o Leixões desde o final da época interior quando na apresentação dos pressupostos várias vezes foram perguntados sobre a situação do Leixões dando respostas sempre muito dúbias, colocando na cabeça das pessoas a ideia de que o Leixões era um clube tecnicamente incumpridor e sem condições.
Quando vimos que o próprio regulamento interno da Liga não resolvia estas questões entendemos que o Leixões já não se revia no projecto inicial que o levou a integrar a Liga.
20 - Hermínio Loureiro foi um bom presidente da Liga?
- Hermínio Loureiro, feito o saldo, foi um bom presidente da Liga. Não cumprir, a maioria das vezes não por sua culpa, aquilo a que se propôs e em determinada altura perdeu um bocado a objectividade naquilo que pretendia. Alertei-o várias vezes da necessidade de estar mais tempo na Liga e das consequências que teria para a Liga o facto de poder ser presidente da câmara de Oliveira de Azeméis. Enquanto deputado ele tinha maior flexibilidade de horário. O grande descalabro e a grande desorientação na Liga surgiram exactamente após ele assumir a candidatura à Câmara. As suas responsabilidades como autarca limitaram-no muito. Sabemos todos que com patrão fora é dia santo na loja.
21 - Há a possibilidade de os jogos do Leixões na II Liga serem transmitidos na sua quase totalidade pela Sport-TV?
- Como nós sabemos, a Sport-TV dá todas as semanas dois ou três jogos da Liga de Honra. Não tenho
dúvidas que a maioria desses jogos serão jogos do Leixões.
22 - Consumada a contratação de Augusto Inácio, vai arrancar agora o processo de formação de um plantel que só tem 9 jogadores com vínculo contratual?
- Este é o fim de um ciclo e o início de um novo ciclo. Independentemente de alguns dizerem que nós não sabemos nada de futebol, quero-lhes dizer aqueles que dizem saber muito de futebol sabem apenas de coisas que andam à volta do futebol. O futebol é jogo jogado. Isso é que é futebol.Se estamos a falar em esquemas, não é por aí que queremos ir. O Leixões tem de ser reconhecido por não entrar por caminhos cinzentos em que
muitas vezes entrou. Este tem de ser um negócio de gente séria, o que não quer dizer que não sintamos que já fomos prejudicados por questões menos claras. O que vamos fazer será, portanto, uma grande análise às
nossas possibilidades.
23 - O Estádio do Mar vai ser alterado, vai perder a bancada norte, os campos do treino, não é esta a oportunidade para se falar de novo na possibilidade de o Leixões ter um novo estádio?
- O que está a acontecer vem de um projecto de reformulação da cidade no qual o Leixões tem um papel importantíssimo. A cidade deve ao Leixões o facto de ter “pegado” naquela zona da Cruz de Pau e de a ter reformulado. Sem o Leixões, a Câmara ainda não teria avançado para aí. Portanto, foi o Leixões que levantou a questão e tudo avançou. O Leixões não precisa de um novo estádio. Clubes da dimensão do nosso tem de ter o mínimo possível de despesas estruturais e esta é uma oportunidade fantástica para a cidade e o concelho passarem a ter um estádio municipal de qualidade e de dimensão adequada. Naquele sítio porque hoje também não temos muitos terrenos disponíveis e ali as acessibilidades vão ser muitoboas, estará ao lado de duas estações de metro e ligação à A28 e à Senhora da Hora. O estádio vai ficar num sítio que poderá ser o
ex-líbris da cidade e um ponto de encontro da cidade e dos visitantes. O que é preciso é pensar-se em fazer um estádio municipal. Hoje, os leixonenses não teriam dificuldade em aceitar negociar com a câmara, em posição de justiça, uma transferência para a Câmara do estádio, para transformar o Mar no estádio emblemático de Matosinhos. E isso não será comprometer a herança que recebemos dos que ajudaram a construir o estádio, pelo contrário. Não acreditemos nesses falsos profetas que
dizem que tal será desonrar os antepassados. Desonrar os antepassados é não ter a capacidade de melhorar o que nos deixaram. Não podemos herdar uma casa e deixá-la cair aos bocados só porque não podemos mexer nela. Temos de pegar na casa que nos deixaram e melhorá-la, colocando-a ao
serviço da comunidade. Aqueles que ajudaram a construir o Estádio do Mar gostariam de ver o que construíram não em ruínas como estava quando chegámos mas remodelado, sendo um grande ponto de encontro de todos os matosinhenses. Mesmo que mude de dono, não deixará de ser o estádio do
Mar, o estádio dos pescadores, o estádio de todos os matosinhenses. Quanto melhor estiver, quanto mais condições tiver, mais dignificará quem teve a coragem de lançar a primeira pedra. A Câmara já resolveu o
problema do Lavrense, do Leça do Balio, do Custóias, está a resolver o problema do Infesta e do Leça, resolveu o problema do Padroense...portanto, a câmara tem obrigações para com um clube que tem sido muito solidário com a cidade, que tem levado longe o nome de Matosinhos. Não pode, por isso, continuar a ter complexos de ajudar o Leixões. Porque sempre que a Câmara ajuda com um pão aparecem logo os chamados grandes amigos do Leixões a criticar mas não vêem que na proporção outros clubes têm sido muito ajudados. Não critico essa ajudo apenas quero que acabemos com os complexos de levantar sempre suspeições quando aparece alguém a querer ajudar o Leixões. Aqui não há negociatas, há o interesse da causa comum. O Leixões já mostrou que tem um projecto sério e que todos aqueles que durante os últimos anos tentaram denegrir esse projecto receberam a devida resposta nas últimas eleições.
24 - O que vai mudar na formação do clube?
- A formação do Leixões tem de ser um ex-líbris só que não podemos ser um armazém de jovens. É sempre
muito difícil aproveitar os nossos jogadores da formação. Por um lado pedem-nos para apostar nos nossos jovens mas por outro pedem-nos resultados imediatos. Por isso, temos de olhar para a formação sempre
pensando nos custos e nos benefícios que podemos conseguir.
Por: Joaquim Queirós
in http://www.matosinhoshoje.com